chicobrunomininova.jpgInternacionalização da Amazônia, um jogo de mau gosto bancado por brasileiros
por Chico Bruno (*)
publicado em 1ª Hora – 30/03/2007

A verdade sobre a campanha de privatização da Amazônia, proposta pela empresa Arkhos Biotech, desvendada pela editora assistente da Folha de São Paulo Malu Delgado, que foi à luta e descobriu que “a ficção pregou uma peça na política”, foi considerado um mico pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que repercutiu a denúncia da Agência Amazônia na tribuna do Senado.

Discordo do senador. O debate sobre o assunto serve de alerta as autoridades brasileiras para as brincadeiras de mau gosto que circulam na internet. Cabe ao governo brasileiro apurar as reais intenções dessa ação, que repercutiu na imprensa e no Congresso Nacional.

Aqui não interessa discutir se a Arkhos é real ou virtual. O que interessa discutir é que existe um site na internet ( http://www.arkhosbiotech.com) pregando a internacionalização da Amazônia.

Os senadores e deputados que levaram ao Congresso Nacional a denúncia da Agência Amazônia de Notícias, assim como a própria agência e todos os jornalistas que se indignaram com a descoberta do site agiram de boa fé em defesa da Amazônia.

A notícia divulgada pela Agência é extremamente grave, exista ou não a empresa, pelo simples fato de estar disponível na internet um vídeo propondo a internacionalização da Amazônia, com ofensas ao país e aos sul-americanos em geral.

Segundo Malu Delgado, a Arkhos é uma empresa fictícia criada em jogo virtual – “Alternate Reality Games” (ARGs) -, no site www.zonaincerta.com, patrocinado pelo guaraná Antarctica, feito em parceria com a Editora Abril. A brincadeira tem como eixo uma misteriosa história envolvendo um biólogo que teria descoberto segredos da fabricação do guaraná. A Arkhos é a vilã que quer a Amazônia sob controle privado.

Procurado por Malu, a Ambev, fabricante do guaraná Antarctica, afirmou que aderiu a uma ferramenta de marketing inovadora e diferenciada, ainda pouco explorada, que é o “alternate reality games”, um jogo que convida os consumidores da marca a desvendar um mistério. A ação gira em torno da fórmula secreta do guaraná.

Por mais que se explique a “brincadeira” na internet, o seu enredo é pernicioso aos interesses do Brasil, pois prega a internacionalização da Amazônia.

O senador Arthur Virgílio (PSD-AM), um dos parlamentares que usou a tribuna para protestar contra a campanha, ao ser informado sobre a “brincadeira” reagiu com bom humor: “É um mico danado, hein! Mas vou continuar vigilante a meu Estado, ainda que tenha que pagar outros micos. Neste caso foi “brincadeira”, mas tem gente que de fato pensa isso da Amazônia.

Discordo da reação do senador, pois não se trata de uma brincadeira saudável, mas de muito mau gosto e danosa a Amazônia.

Como um senador amazônida, o que se espera é que volte a tribuna do Senado, peça a retirada imediata do site do ar e que solicite a Ambev e Editora Abril que se retratem através de nota pública divulgada na imprensa.

Afinal, a atitude da Ambev e da Editora Abril é no mínimo temerária, pois no frigir dos ovos estão pregando a privatização da Amazônia.

(*) Chico Bruno é jornalista em Salvador

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sergioleo.jpgO poder do guaraná, ou o guaraná do Poder
por Sérgio Leo
in O Sítio do Sérgio Leo – 24/11/2006

Saiu na coluna da excelente Flávia Oliveira, dO Globo: a Ambev baixou em Maués, no Amazonas, e decidiu comprar toda a produção de guaraná, 290 toneladas até janeiro, 76% a mais do que foi comprado no ano passado. A Ambev pagará R$ 9,33 por quilo, mais que o preço do mercado, R$5,65.

O que a Flávia não sabia é que, muito provavelmente (ah, como é bom escrever em blogue… o doce veneno da suspeita irresponsável!) a tacada da Ambev mirou bem na virilha de uma das estrelas da Bienal de S. Paulo, o grupo Superflex, que há anos vem atazanando a multinacional belgauriverde.

O Superflex tentou trazer para a Bienal seu trabalho Guaranápower, que consiste na produção de um guaraná alternativo, com mais cafeína, de sementes compradas em… Maués.

O mercado para os produtores de Maués é o que os livros textos classificam como oligopsônico, poucos compradores para muitos produtores _ aliás, acho que um só comprador, a própria Ambev (chama-se, nesses casos, monopsônico, se alguém quiser saber ou estiver à procura de um bom nome para seu animalzinho de estimação). É claro que a fabricante de bebida estava com a chapinha e a garrafa na mão para decidir quanto pagar aos manauaras plantadores de guaraná.

O pessoal do Superflex, ao descobrir a exploração dos guarana farmers, decidiu comprar a semente dos caras, por até três vezes o preço do mercado, e produzir a bebida lá na terra deles, a Dinamarca _ onde fazem a beberagem desde 2003, pelo menos, e vendem para gente descolada que gosta de se meter com campanhas humanitárias.

Acontece que, além de um rótulo do tal guaranapower ser uma tarja negra sobre um design claramente identificável como o do guaraná Antártica, a marca Guaranapower já tem dono no Brasil, e é usada na comercialização de um desses energéticos bebidos pela garotada que ainda não descobriu as drogas, em noite de balada. Resultado: depois de meses de negociação, censuraram o guaranapower em sua apresentação paulista.

O que seriam cartazes do guaraná estão lá, na parede do terceiro andar, mas parecem agora posters com figurinhas pixadas, de aparência morandiana. E a idéia de vender a bebida pelos salões da Bienal foi abortada. (Matérias sobre o caso, nesse link AQUI, caso já não tenha clicado nele lá em cima). O pessoal da Galeria Vermelho, lá em Sampa, chegou a trazer umas latinhas, cujo conteúdo tem um gosto mais azedinho que o adocicado similar nacional.

Pelo jeito, a Ambev açambarcou o guaraná de Maués, comprando antecipadamente a safra dos caras. Estou curioso para saber o que aconteceu com a microindústria dos artistas dinamarqueses.

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O vídeo que vende a Amazônia e a consciência nacional
por Montezuma Cruz
publicado em Tudo Rondônia – 31/03/2007

As parceiras Ambev e Editora Abril assumiram, esta semana, a violação dos códigos civil, penal e da própria Constituição Federal, ao promoverem a divulgação de um vídeo difamatório à Amazônia. No entanto, a brincadeira dessas empresas pode ter o efeito de um bumerangue. O uso da maior rede de comunicação do planeta para uma armação nutrida por evidentes interesses pouco subliminares, põe a fabricante do guaraná Antarctica na lista do oportunismo e da rapinagem na região.

Patrocínio de vídeo falso é crime tão nocivo quanto a discriminação racial ou formação de quadrilha no orkut.

A deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) acionou a Polícia Federal para investigar a origem do vídeo. Os ministérios da Justiça e do Meio Ambiente escaparam de fazê-lo esta semana, mas certamente irão se pronunciar.

Até o momento, ambos os grupos patrocinadores do vídeo não se retrataram. Ao contrário. O site do Laboratório Arkhos, anunciado como “criação publicitária” do açucarado Guaraná Antarctica, prossegue com comunicados para prosseguir atraindo o público. Nesse ritmo, violam consciências e abusam da paciência e boa fé de pessoas, entre as quais, os seus próprios consumidores.

Eis o apelo contido na página do laboratório: “Deixar a Amazônia nas mãos dos sul-americanos é condená-la à extinção rapidamente. Ao propiciar ao mundo a chance de intervir no destino da floresta, a humanidade pode estar dando o único passo possível para salvar a Amazônia”.

Isso cheira a rapinagem em essência.

Jogo nocivo

Divulgar na internet que a Amazônia está à venda nunca será uma ferramenta de marketing conseqüente. Já existem precedentes na rede, denunciou a Agência Amazônia de Notícias (www.agenciaamazonia.com.br). Daí o efeito bumerangue, que bate feito um bólido, na “cabeça peidada” (assim se diz na Amazônia) dos publicitários aquartelados por essas empresas.

Da tentativa insana de criar uma peça publicitária e expor ao mundo, na tela do computador, a Arkhos, parida pela criatividade da dupla empresarial incute em crianças e jovens envolvidos com jogos virtuais o desprezo pelo próprio solo, pela floresta, pelo ecossistema. É como se tudo estivesse mesmo à venda, sem problema algum, na base do “se colar, colou”.

As peripécias da Ambev em Maués (no estado do Amazonas) são comentadas também pelo jornalista Sérgio Leo, no sítio do Sérgio Leo: http://sergioleo.blogspot.com/2006/11/o-poder-do-guaran-ou-o-guaran-do-poder.html

Enredo pernicioso

De acordo com a assessoria de imprensa do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que denunciou a trama do suposto Arkhos Biotech, o parlamentar achou graça de ter denunciado o vídeo da assumidamente fictícia Arkhos Biotechnology . Atribuíram-lhe um “mico” por haver se posicionado em defesa da Amazônia. E ele considerou a ilegalidade da Ambev e Abil um equívoco. Pior faria, se ficasse calado ou omisso.

Como se estivesse agindo corretamente, dentro da impunidade, a direção da Ambev ainda aproveitou para convidá-lo a gravar um comercial. A que ponto chega o abuso dos conglomerados que se consideram donos da Amazônia e autorizados a transformá-la em feudo para suas gracinhas marqueteiras!

A atitude da Ambev e de sua parceira Abril dá margem à busca da fórmula super-secreta da Coca-Cola. Amanhã, a brincadeira pode ser promovida por outras fabricantes de refrigerantes e produtos que afetam a construção óssea do ser humano.

O jornalista Chico Bruno (no site www.primeirahora.com.br) alerta: “Por mais que se explique a brincadeira, o seu enredo é pernicioso aos interesses do Brasil”. “É uma brincadeira danosa”, ele afirma, conclamando o senador Arthur Virgílio — e, conseqüentemente, os demais parlamentares da região — a pedirem à Justiça a imediata retirada do site do ar.

A denúncia da Agência Amazônia de Notícias demonstrou uma postura não apenas dela, mas do jornalismo disposto a considerar extremamente grave o aparecimento de um site propondo a internacionalização da região, com ofensas ao país e aos sul-americanos em geral. Uma pesquisa no Google é o suficiente para se aferir a repercussão desse estrago.

Paralelamente ao famigerado Arkhos, seja qual for a origem, o conteúdo e o feitio lingüístico do seu site, vemos situações positivas campeando nas caixas postais e nos monitores. O site “Amazônia para sempre”, autor de uma delas, tem repudiado a comemoração do “menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados, quase a metade da Holanda”. “Quando se desmata 16%, isso equivalente a duas vezes a Alemanha e três vezes a área do Estado de São Paulo”, adverte o site.

O que a sociedade brasileira oferece em troca, pela manutenção desse patrimônio com biodiversidade incomparável e rica, com seres humanos incríveis, com uma fonte incalculável de riquezas minerais, petróleo e gás natural no subsolo e mais de 20% da disponibilidade de água doce do planeta? _ perguntamos, lembrando o jornalista e poeta manauara Simão Pessoa.

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Laboratório americano propõe privatizar a Amazônia
in Rondonotícias

 

O laboratório Arkhos Biotech, dos EUA, defende em vídeo o controle privado para “salvar a Amazônia“. E acusa o Brasil de não cuidar da região

A Amazônia está mesmo à venda. Em um vídeo de 1’25″, postado em seu site, a empresa norte-americana Arkhos Biotech está convocando as pessoas do mundo inteiro a investir “para transformar a floresta (Amazônia) num santuário de preservação sob controle privado. O apelo, em tom dramático, é feito pelo diretor sênior de marketing da empresa Allen Perrell, para justificar que a Amazônia precisa ser cuidada por grupos internacionais. “A Amazônia não pertence a nenhum país. Pertence ao mundo”, afirma Perrel.

Segundo ele, a proteção privada da Amazônia deve ocorrer porque “os países (no caso o Brasil) que deveriam tomar conta dessas riquezas não estão à altura da tarefa”. Perrel vai mais longe: “ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento. Pode ser a única maneira de salvar a floresta da extinção total”.

Em sua página a Arkhos Biotech divulga, em texto, áudio e vídeo sua missão: A Amazônia deve ser internacionalizada. A empresa tem laboratório em Itacoatiara (AM), no coração da Amazônia, explora essências e óleos vegetais amazônicos, tradicionalmente conhecidos das comunidades ribeirinha, a exemplo do óleo de andiroba (Carapa Guianensis), usado como repelente natural de insetos e com ação anti-inflamatória; óleo de castanha-do-Pará (Bertholletia Excelsa), hidratante, óleo de Buriti (Maurita Flexuosa L.f.), rico em carotenóides e pró-vitamina A ; óleo de copaíba (Copaifera Officinalis) que tem ação anti-inflamatória e óleo de açaí (Euterpe Oleracea Mart) que tem ação calmante e de hidratação.

Ela se apresenta como uma das maiores fabricantes do mundo de ativos vegetais para a indústria cosmética e farmacêutica, atuando no mercado desde 1965 exportando para mais de 20 países. Também, segundo ela, é líder mundial na distribuição de sistemas concentrados 100% naturais, contendo ativos retirados de óleos de frutos tropicais. Em troca, a Arkhos Biotech promete “fabricar produtos que reduzem custos de processos produtivos, barateando-os e gerando renda para as comunidades ribeirinhas”.

Amazônia é fardo para o Brasil
Na avaliação da Arkhos Biotech, a Amazônia é um fardo difícil para o Brasil carregar. Para referendar suas afirmações destaca a pouca atenção do Governo brasileiro para com a região. Lista entre as ausências as taxas de desmatamento; o baixo investimento em pesquisa; (dos 0,65% do PIB brasileiro investido em pesquisa, apenas 2% são canalizados para a região Norte); o surgimento de organizações não-governamentais (ONGs) na Amazônia brasileira mantidos com dinheiro dos países desenvolvidos. Além disso, ironiza: “78% das pesquisas sobre a Amazônia são produzidos por pesquisadores estrangeiros”.

Sobre a riqueza existente na Amazônia – a empresa lista desde água em abundância, produtos não-madeireiros, minérios e recursos cujos valores ainda não mensuramos – o maior estoque de biodiversidade do mundo. Com cerca de 6 milhões de quilômetros quadrados de extensão a floresta amazônica ela abriga entre 10% e 20% de todas as espécies que vivem em nosso planeta. Destaca que das 10 mil espécies de plantas possíveis de ser utilizadas como insumos em produtos para a saúde e a aplicação cosmética, a indústria de cosméticos usa apenas 135 espécies. E conclui: a vida do homem sobre a Terra depende da Amazônia. Por isso, o objetivo da Arkhos Biotech é ajudar a humanidade a usar e a tomar conta da Amazônia.

O que diz o vídeo – “Controle privado é a melhor maneira de salvar a Amazônia.

“Controle privado é a melhor maneira de salvar a Amazônia.Controle privado é a única maneira de salvar a Amazônia.

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo

Não apenas isso: em termos de biodiversidade, nenhuma outra floresta no mundo é páreo para a selva sul-americana.

O fato – O comércio de madeira tropical movimenta US$ 10 bilhões por ano.

O comércio de madeira tropical movimenta US$ 10 bilhões por ano.Trata-se de cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados de floresta, uma área responsável por grande parte do oxigênio produzido no planeta.

A dura verdade é que os países que deveriam tomar conta dessas riquezas não estão a altura da tarefa.

O custo – 15 bilhões de hectares anuais de floresta nativa destruídos todo ano.

15 bilhões de hectares anuais de floresta nativa destruídos todo ano.Se nada for feito, a floresta será condenada à morte e desaparecerá diante de nossos olhos.

Nós podemos impedir isso. E você pode nos ajudar. (Aparece um homem de gravata. Allen Perrel, diretor sênior de Marketing ).

Através de nossas atividades na Amazônia, nós podemos trabalhar junto a investidores para gradualmente transformar a floresta num santuário de preservação sob controle privado.

Ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento: pode ser a única maneira de salvar a floresta.
Lembre-se – A Amazônia não pertence a nenhum país. Pertence ao mundo.”

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Foco: Senador propõe audiência com diretores de empresa que é parte de jogo virtual
MALU DELGADO
Folha de S. Paulo
30/3/2007
A ficção pregou uma peça na política. Discutiu-se na tribuna do Senado, na terça-feira, a polêmica ação da empresa Arkhos Biotech, identificada como “uma das maiores fabricantes do mundo de ativos vegetais para a indústria cosmética e farmacêutica”. A empresa defende, na internet, (www.arkhosbiotech.com) a internacionalização da Amazônia.
A postura institucional da Arkhos deixou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) furioso. “Tem notícia da maior gravidade que devo trazer ao conhecimento da Casa. Ela está no site da Agência Amazônia, sob o título “Laboratório americano propõe privatizar a Amazônia””, alertou.
“Estou convidando essa empresa a se fazer representar em uma reunião da Subcomissão da Amazônia, que funciona na Comissão de Relações Exteriores (…), porque a notícia pareceu-me extremamente grave”, disse ele.
O fato é que a audiência não acontecerá. A não ser que sejam definidos dia e hora no mundo virtual. A Arkhos é uma empresa fictícia criada em jogo virtual – “Alternate Reality Games” (ARGs) -, no site www.zonaincerta.com.
O jogo é patrocinado pelo Guaraná Antarctica, feito em parceria com a Editora Abril. A brincadeira tem como eixo uma misteriosa história envolvendo o biólogo Miro Bittencourt, que teria descoberto segredos da fabricação do guaraná. A Arkhos é a vilã que quer a Amazônia sob controle privado.
E tem, ainda, um grupo ambientalista, o Efeito Paralaxe. A “entidade” fez protestos – reais – no dia da visita de George W.Bush ao Brasil.
Procurada pela Folha, a patrocinadora do jogo esclareceu: “O Guaraná Antarctica aderiu a uma ferramenta de marketing inovadora e diferenciada, o ainda pouco explorado “alternate reality games” (ARGs), jogo que convida os consumidores da marca a desvendar um mistério. A ação gira em torno da fórmula secreta do Guaraná Antarctica”.
Ao ser informado pela Folha sobre a real situação da empresa, o senador reagiu com bom humor: “É um mico danado, hein! Mas vou continuar vigilante a meu Estado, ainda que tenha que pagar outros micos. Neste caso foi brincadeira, mas tem gente que de fato pensa isso da Amazônia. Só não vou mais chamar o pessoal para depor”.
Leia a íntegra do discurso de Arthur Virgílio no Senado

Veja abaixo a íntegra do discurso dos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Gerson Camata (PMDB-ES) no Senado:

Discurso do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM)
“Senhor presidente, ilustre Cônego José Carlos Dias Toffoli, coordenador oficial da Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano, cujo tema é essencial para o próprio entendimento do meu mandato, pois se trata da região que represento, a Amazônia, senhoras e senhores senadores, senhoras e senhores convidados, antes de mais nada, deixo bem claro que não sou xenófobo, não vejo o estrangeiro como inimigo ou como ameaça em si mesmo, não sou alguém que se arrepia quando fala em ONG –Organização não-Governamental– e que liminarmente recusaria a participação delas no processo de desenvolvimento sustentável da minha região.

Concordava ainda há pouco com o senador Gerson Camata que temos uma obrigação muito fina de sermos competentes na administração da Amazônia, porque se, irresponsavelmente a desmatarmos, estaremos sujeitos, sim, ao que se chama de cobiça internacional; se, por incúria, má-fé ou ganância de alguns grupos econômicos que só olham as colinas no curto prazo, não soubermos tratar a Amazônia como uma área estratégica para o país, inalienavelmente de bandeira nacional, porém reconhecidamente de interesse planetário, estaremos sujeitos, quem sabe, um dia, a perdê-la, manu militari, virando em 6, 10 ou 12 anos um protetorado sob a coordenação das Nações Unidas.

Então, separando bem as coisas, procurando marcar muito nitidamente essa posição –e antes de conceder o aparte ao senador Gerson Camata– volto ao projeto de concessão de florestas, no qual votei favoravelmente.

Claro que ele sozinho não resolve a questão, é preciso armar o Ibama de técnicos e de fiscais à altura do que a Amazônia exige para sua fiscalização. Mas, como está, há pressão para desmatar a região à vontade, em qualquer lugar, o tempo inteiro.

A idéia que adotei, que percebi ser também da ministra Marina Silva, foi muito contestada no Senado e dividiu o plenário. O debate durou –sem exagero– umas oito horas, prova de que havia pessoas de boa-fé, cada uma com sua visão, discutindo a região amazônica. Eu entendia, assim como a ministra, que tínhamos de direcionar a pressão sobre áreas, sob fiscalização do Estado, sendo crime –e crime brutal– trabalhar a pressão desmatadora sobre outras áreas. Ou seja, a idéia seria circunscrevermos a exploração da Amazônia ao que era permitido, àquelas áreas concedidas. O resto seria atividade marginal mesmo. Alguém pode falar que não temos como controlar, o Ibama não tem efetivo, a Polícia Federal não tem efetivo. Então, deve-se dotar o Ibama de efetivo, dotar a Polícia Federal de efetivo, completar esse projeto, para que ele possa avançar. O fato é que, como estava e como está, não dava e não dá para continuar.

Portanto, senador Gerson Camata –já concedo o aparte a V. Ex ª e falamos sobre isso ainda há pouco–, já me defini, não sou xenófobo, não tenho arrepios quando o estrangeiro se interessa pela minha região, mas tem notícia da maior gravidade que devo trazer ao conhecimento da Casa neste momento.

Ela está no site da Agência Amazônia, sob o título “Laboratório americano propõe privatizar a Amazônia”:

A Amazônia está mesmo à venda. Em um vídeo de 1 minuto e 25 segundos, postado em seu site, a empresa norte-americana Arkhos Biotech está convocando as pessoas do mundo inteiro a investir “para transformar a floresta (Amazônia) em um santuário de preservação sob o controle privado.” O apelo, em tom dramático, é feito pelo diretor sênior de marketing da empresa, Sr. Allen Perrell, para justificar que a Amazônia precisa ser cuidada por grupos internacionais. “A Amazônia não pertence a nenhum país, pertence ao mundo”, afirma Perrell.
[…]

Perrell vai mais longe: “Ajudar-nos a comprar a Amazônia não é apenas uma ótima oportunidade de investimento. Pode ser a única maneira de salvar a floresta da extinção total.

Em sua página, a Arkhos Biotech divulga, em texto, em áudio e em vídeo sua missão: a Amazônia deve ser internacionalizada. [Ele isso diz textualmente. E diz mais, de maneira bastante primária, bastante grosseira, em relação ao Brasil].

[…]

A Amazônia é um fardo difícil para o Brasil carregar.

Não entendo que a Amazônia seja fardo para nenhum país. A Amazônia não deve ser pasto para lucros fáceis e desmedidos, por exemplo, da empresa do senhor Perrell, se esse é o intento dele, se esse é o desejo dele. Mas a Amazônia não é problema. A Amazônia é uma brilhante solução para um país que só é brilhante na sua composição final, se contar com a Amazônia plenamente desenvolvida, de maneira sustentável por nós todos. Tenho muito respeito pelo Chile, mas o Brasil sem a Amazônia é um Chile mais forte um pouquinho, um pouco mais gordinho. O Brasil com a Amazônia é um país que pode se credenciar, sim, a ser uma potência econômica.

É a última fronteira de desenvolvimento com que contamos: a biodiversidade, a água, a madeira explorada com correção, a sabedoria dos nossos –meus, com certeza– descendentes indígenas, a perspectiva pesqueira por meio dos criatórios, a junção entre o cientista e o mateiro. O cientista é culto na sua formação acadêmica, Senador Gerson Camata, e o mateiro é culto na sua formação empírica de vida na Amazônia.

Nenhum dos dois é mais culto do que o outro, os dois são igualmente cultos, porque o cientista sabe explorar a planta medicinal que o mateiro indica e só chega ao local quando o mateiro lhe diz onde é e quando ir. Ou seja, eu não faria uma diferença entre aquele que estudou muito e tem todos os méritos e lauréis acadêmicos e aquele que não estudou nada nos livros, mas que estudou a lua, o sol, os rios, o tempo, a minha região e a conhece empiricamente de maneira brilhante.

Estou convidando essa empresa a se fazer representar em uma reunião da Subcomissão da Amazônia, que funciona na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, com as autoridades de meios ambientais do País e do Ministério das Relações Exteriores, porque a notícia pareceu-me extremamente grave.

Digo isso novamente, senador Sibá Machado, V. Exª me conhece e sabe que não repudio a figura do estrangeiro, ao contrário, prego a parceria com o estrangeiro. Entendo que, em relação à Amazônia, existem dois tipos de estrangeiros, os bons e os ruins, como existem dois tipos de brasileiros, os bons e os ruins. Alguém pode falar de racionalidade, afirmando “a exploração que eu quero é racional”. Mas isso não me basta, porque nunca ouvi alguém dizer que quer fazer alguma coisa de maneira irracional, afinal de contas somos animais bípedes racionais.

O quero saber é se a racionalidade que propõem para desenvolver a minha região é uma racionalidade que não vai influenciar negativamente no clima, se é uma racionalidade que vai permitir que mantenhamos viva a galinha dos ovos de ouro, que é a Amazônia, pelos tempos, pelos séculos, pelos milênios. Ou seja, quero saber se a racionalidade de todos, a racionalidade média, é uma racionalidade boa para o meu País, se é boa para o meu povo, se é boa para a humanidade.

Então, é dentro dessa circunstância de convicção que lamento muito essa declaração ofensiva ao Brasil, absolutamente primária, mas que revela o interesse de ver a Amazônia desnacionalizada. Pensam eles que a Amazônia está à venda. Ela não está à venda! Diz isso um Parlamentar que reconhece que a Amazônia só será brasileira mesmo, ao longo dos tempos, se formos capazes de defendê-la. E não é defendê-la militarmente, não é defendê-la porque simplesmente queremos que reconheçam que a bandeira nacional por si explica nossa soberania sobre a área, mas defendê-la desenvolvendo-a com as melhores regras do meio ambiente.

Se V. Exª me permite, senhor presidente, ouvirei o senador Camata e encerrarei meu pronunciamento.

Discurso do senador Gerson Camata (PMDB-ES)
Ilustre Senador Arthur Virgílio, cumprimento V. Exª ao navegar nas águas da CNBB, que está provocando a capacidade dos brasileiros para administrar a Amazônia. Toda vez que nos descuidamos, que não denunciamos, como V. Exª agora está denunciando, toda vez que nós, brasileiros, não fazemos o que a CNBB está fazendo, estamos descuidando de um patrimônio e às vezes até dando razão a esse cientista norte-americano quando diz que estamos sendo incompetentes para administrar a Amazônia.

Recordo-me, há cerca de uns 15 a 20 anos, que houve uma reunião do G-8 – o Brasil não estava presente, pois não faz parte do G-8 – e um representante inglês disse: “A Amazônia é um patrimônio da humanidade.” E nós fomos defendidos lá por Helmut Kohl, então Chanceler da Alemanha, que declarou: “A Amazônia não é um patrimônio da humanidade; a Amazônia é um patrimônio do Brasil a serviço da humanidade.”

Precisou de um alemão para nos defender daquela tentativa de internacionalização da nossa Amazônia. Cumprimento V. Exª e, acima de tudo, junto com V. Exª, quero cumprimentar a CNBB. Todos os anos, como disse o Senador Cristovam Buarque, ela vem aqui, às vezes até dar um tapinha em nosso rosto, como a sugerir que acordemos para aquele assunto. É um exemplo que dá a todos os brasileiros, despertando-nos para problemas que temos e dos quais, às vezes, nos esquecemos. Muito obrigado a V. Exª.

Discurso do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM)
Muito obrigado, Senador Gerson Camata. V. Exª tem absoluta razão. A CNBB foi profética, até porque ela propôs essa campanha antes de as denúncias estarem tão arraigadas, antes de estar na ordem do dia de maneira tão forte a questão do aquecimento global.

O Brasil, sem os desmatamentos desenfreados, senador Inácio Arruda, seria o 18º país poluidor. Com os desmatamentos, ele fica perto do 20º, ou algo assim. Ou seja, nós precisamos dar o nosso quinhão, fazer a nossa parte.

O mundo desenvolvido, o mundo rico –melhor dizendo– precisa aprender uma nova forma de produzir. Parar de produzir riquezas nunca, porque, se parar de produzir riquezas, a fome retorna aos países que já a venceram e a fome não será vencida por aqueles países que ainda com ela se defrontam. Então, o desafio é continuarem os países todos a produzir riqueza, sim, mas de uma outra forma, uma forma que não comprometa –e aí seria um comprometimento covarde– a vida das gerações vindouras. Porque se não errarmos mais, ainda assim estaremos pagando pelos erros cometidos até hoje nos próximos 100 anos. Se não errarmos mais. Teremos, portanto, que só acertar, se é que temos a noção de que há um mundo a merecer de nós atenção, respeito; e um país a merecer de nós, por exemplo, que saibamos, de início, cuidar dos nossos recursos hídricos, das nossas cidades, do ar que respiramos, da Amazônia. É uma prioridade. A Amazônia, mais do que nunca, ela que sempre foi um tema de interesse planetário, deixou de ser um tema provinciano, debatido apenas pelos senadores na nossa região, senador José Nery, para ser um tema nacional.

Hoje significa uma absoluta alienação, diante da realidade brasileira, um Parlamentar não ter na ordem do dia de suas prioridades, seja ele do Rio Grande do Sul, ou do Acre, a preocupação com a Amazônia, como muito bem faz a CNBB, e repito, em tom profético, porque antes de ter esquentado o debate sobre o aquecimento global.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, senhor presidente.



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Notícia cortesia Assessoria de Comunicação Social (ASCOM) do Ministério do Planejamento do Brasilvia Tio SAM

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O inimigo tem nome: Arkhos Biotechnology OU Por que The Uncles é uma droga
por Henry Sobel – Blog NOTEU

Muito se falou sobre The Uncles neste blog. O assunto gerou uma polêmica desproporcional, muito além da relevância criativa e estratégica da ação publicitária. Muitos não entenderam que a única coisa que eu condenei foi o fato de a agência Tribo Interactive ter convencido seu cliente a comprar espaços em blogs e rádios e veicular publicidade como se fosse conteúdo editorial.

O argumento de vários leitores do Noteu* que se posicionaram contra esta minha opinião era de que lançar um mito como se fosse verdade é um dos princípios do Buzz Marketing e dos novos formatos que a publicidade vem adquirindo. Até aí tudo bem. Criar o mito é OK. O problema, repito, é pagar veículos para que eles enganem sua audiência. Aí está o estelionato, como escreveu um leitor do Noteu*.

Como fazer então para criar um mito sem enganar ninguém ativamente?

Deixem-me falar da Arkhos Biotechnology. É uma empresa americana que atua na Amazônia e que declaradamente quer comprar a nossa floresta. Segundo a Arkhos, os brasileiros são incapazes de cuidar dela. A solução seria passar todo o território da floresta para o controle privado estrangeiro.

Miro Bittencourt, um biólogo brasileiro que atua na Amazônia, supostamente descobriu o que seriam alguns planos maquiavélicos da Arkhos. Depois disso, sumiu misteriosamente. Muitos afirmam que foi sequestrado a mando da multinacional norte-americana.

Uma organização chamada Efeito Paralaxe, indignada com o ocorrido, organizou uma série de protestos contra a Arkhos Biotech durante a visita de Bush ao Brasil. Eis uma clipagem de alguns dos principais veículos brasileiros a respeito dos protestos:

“Ao contrário do protesto que acabou em violência na véspera, cinco manifestantes em roupas verdes seguravam pacificamente cartazes em meio aos curiosos à frente do hotel. Eles denunciavam a empresa norte-americana Arkhos Biotech, que pretenderia ‘comprar a floresta amazônica do Brasil’, conforme um panfleto.” – JB Online

“Um grupo de manifestantes acaba de chegar ao local com uma faixa e cartazes. ‘Fora Arkhos Biotech, a Amazônia é nossa’, assinada por uma entidade ambientalista. O grupo é pequeno, apenas com cinco pessoas, e uma delas usa perna-de-pau. As roupas são estilizadas e delas saem galhos de árvore.” – O Globo Online

“Durante a passagem da comitiva, de 40 veículos, Bush acenou para curiosos. No caminho, foi surpreendido por manifestantes fantasiados de árvores. Os ativistas, da organização não-governamental Efeitoparalaxe, protestavam contra o desmatamento da Amazônia e a proposta da companhia norte-americana de biotecnologia Arkhos Biotech para comprar a floresta tropical brasileira.” – Divisão de Comunicação Social do Governo Federal

A novidade é que, provavelmente, a coisa toda não passa de um mito criado para um ARG, talvez uma ação comercial para algum cliente. Como o leitor pode perceber, entretanto, ninguém foi comprado para divulgar as informações comerciais como se fossem conteúdo. Ou você acha que alquém conseguiria comprar O JB, o Globo e o Governo Federal para divulgar informação falsa? Os criadores apenas foram para as ruas, organizaram todo contexto e as notícias acabaram invadindo os veículos de forma muito mais verdadeira e honesta.

Vocês conseguem perceber a diferença da inteligência desta ação e a da bobajada ridícula que foi esse The Uncles? Além disso, com o valor de um anúncio dos tiozinhos na revista Caras daria para fazer trinta ARGs como esse da Arkhos Biotech.

Links para quem quiser se aprofundar na história:
Conferência Arkhos Biotech
Miro Bittencourt
Protesto Brasil vs. Arkhos
Blog contra Arkhos
Zona Incerta (site que dá início ao jogo, provavelmente, se for um jogo mesmo)